Onde a onça bebe água
uma antropologia à medida dos mundos indígenas
Keywords:
Antropologia, Perspectivismo ameríndio, CosmofobiaAbstract
O presente trabalho tem como objeto de pesquisa o livro "Onde a onça bebe água", dos autores Veronica Stigger e Eduardo Viveiros de Castro, e suas relações com o perspectivismo ameríndio, propondo um exercício de atualização e revisão dos automatismos intelectuais. Por meio da história de Joaci, passamos a nos questionar: o que um menino vê ao olhar para uma onça no meio da mata? E o que a onça vê ao se deparar com um menino? Trata-se do perspectivismo ameríndio, o qual se apresenta como uma crítica em direção ao modo como os papéis de sujeito e objeto estão dispostos na análise antropológica. Adotando da tradição estruturalista a divisão natureza e cultura, observa-se uma separação das relações que o pesquisador e o nativo mantêm com esta. O discurso deste encontra-se acabado em sua própria cultura, sendo moldado por ela. Aquele, então, vale-se da sua. O primeiro constitui-se como objeto; o segundo, como sujeito. A justificativa para tal impulso se dá pela falta de materiais pedagógicos com foco na temática indígena que busquem explicar a noção de perspectivismo às crianças e, por consequência, ampliar o repertório dos docentes que anseiam em enfrentar tal temática. O perspectivismo não é um relativismo, mas um multinaturalismo, os ameríndios propõem o oposto: uma unidade representativa ou fenomenológica puramente prenominal, aplicada indiferentemente sobre uma diversidade real. Uma só 'cultura', múltiplas 'naturezas'; epistemologia constante, ontologia variável. Compreender, portanto, as novas tensões propostas pelo perspectivismo passa também por situá-lo no debate entre as inflexões propostas pelo animismo e pelo etnocentrismo nesta teoria. Demanda-se, pois, compreender como se insere a relação homem-animal em delimitações empíricas e quais são os limites do constructo conceitual “homem” para os ameríndios. Abre-se espaço para a produção teórica nativa e para a observação da complexidade do mundo, que é formado pelo relacionamento de tantos outros mundos também.