O gesto infantil na cena traumática
contribuições da pedagogia de emergência para uma educação sensível
Keywords:
Gesto infantil, Criatividade, Impulso lúdico, Pedagogia da EmergênciaAbstract
O presente trabalho pretende estabelecer uma relação entre os conceitos de memória, gesto infantil e processos criativos no pensamento do filósofo Walter Benjamin e articulá-los com a intervenção da Pedagogia de Emergência realizada em Petrópolis (2022). Benjamin propõe vias reflexivas e criativas, principalmente no que tange ao encurtamento do pensamento e dos modos de sentir. Essas vias visam retirar os sujeitos de suas posições passivas, ou mesmo de suas paralisias, diante dos constantes choques, advindos da égide da catástrofe, marca indelével de nossa contemporaneidade. Benjamin enaltece uma estética da experimentação, que põe em cena o Spielraum (espaço do jogo), em contraposição a uma estética da visibilidade, que reforça uma postura contemplativa, passiva diante da vida. Benjamin ressalta a face lúdica e experimental do gesto infantil. A criança, ao experimentar o mundo, cria, desconstrói e reconstrói novas imagens e novas configurações. Dessa maneira, encontramos, no gesto infantil, a dinâmica de uma memória criativa, potencializadora do devir. Em consonância com a filosofia de Benjamin, a Pedagogia da Emergência, fundamentada na Antroposofia, tem como princípio a preservação do impulso lúdico (Schiller) nos sujeitos traumatizados. Resgatar o impulso lúdico é uma aposta para a elaboração do trauma vivido que fragmenta o sujeito e o coloca num estado de emergência. Dessa maneira, é mediante uma cultura do jogo e uma educação estética que se faz possível a expressão do gesto. Gesto que não se esgota no que já está dado, na realidade posta, mas sim, que se lança na experiência presente e a transforma, brinca, potencializando a vida em suas infinitas possibilidades. A experiência com a Pedagogia de Emergência nos mostrou a potência de uma intervenção sensível e coletiva que pretendeu, por meio do lúdico e da arte, sensibilizar os sujeitos traumatizados, firmando o Spielraum enquanto campo de ação social e política que se faz urgente.